sábado, 14 de agosto de 2010

Vídeo: A história das coisas

Artigo: Mulheres

INQUIETAÇÃO NO CAMPO: A LUTA DAS MULHERES – 1945/90

Cleonice Bison

RESUMO: A participação das mulheres brasileiras nas associações, nos sindicatos, na política, não é um fenômeno recente, mas teve um impulso significativo com a organização dos movimentos autônomos. Esses movimentos ganharam rapidamente alcance nacional, redimensionaram seriamente a representatividade sindical. Este trabalho procura recompor a posição da mulher no campo, sua importância social, política e econômica no Brasil, entre 1945/90. Desvelar, por trás das entrevistas e documentos, a presença anônima, mas constante, do Movimento das Mulheres Camponesas - MMC. O objetivo geral desta pesquisa é sistematizar o processo de organização e luta do Movimento de Mulheres no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina entre 1980/90. Em Concórdia-SC, no mesmo período, buscamos compreender o movimento das mulheres ruralistas, sua política de trabalho, sua participação na estrutura produtiva, suas tarefas domésticas, suas tarefas familiares e como essas mulheres reagem socialmente. As transformações do mundo do trabalho foram decisivas para que as mulheres lutassem por autonomia. Uma vez que permitiram constituir e avançar o difícil processo de emancipação e, desse modo, minimizar as forças de dominação patriarcal no espaço doméstico. Contudo, essas transformações foram agravando significativamente a precarização da mulher trabalhadora. Trata-se, portanto, de uma emancipação parcial, um movimento contraditório, que a mulher precisa compreender e afrontar. Assim, dadas às condições estabelecidas de hierarquia e dominação, a causa histórica da emancipação das mulheres não pode ser atingida sem desafiar diretamente a autoridade do capital, prevalecendo no macrocosmo abrangente da sociedade e igualmente no microcosmo da família nuclear. O estudo fundamentou-se, sobretudo, através das fontes históricas escritas e publicadas. Outra fonte de pesquisa foi a história oral. Sem comprometer os entrevistados e colaboradores, registramos que a autoria do trabalho também lhes pertence.

Palavras-chaves: Movimentos Camponeses. Mulher. Trabalho. Sindicato. Emancipação.


ABSTRACT: The brazilian women participation in the associations, in the unions, in the politic, is not a recent phenomenon, but had a significant impulse with the autonomous movement organization. These movements got national reach in a few time, redimensioning the union representativity. This work try to recompose the farmer woman position, its social importance, politic and economic in Brazil, from 1945/90. Awaking, behind of documents and interviews, the anonymous presence, but constant, of the farmer women motion. The general purpose of this research is systematize the organization process and the Santa Catarina and Rio Grande do Sul women motion between 1980/90. In Concórdia – SC, in the same time, we seek understand the farmer women motion, their work politic, the participation in the productive structure, their homeworks, family works and how they react in society. The work world transformation was decisives to incentivate the woman looking for their autonomy. However, these transformations were oppressing in high degree the woman precarious situation. Therefore, is almost a partial emancipation, a contradictory motion, that the woman must understand and hierarchy established conditions, the women emancipation historic cause cannot be reached without challenge directly the capital authority, prevailing in the wide-ranging social macrocosmo and the same in the nuclear family microcosmo. The research founded, specially through of historic sources published and writted. Other researche source was the collaborators and the interviews people, we would like to register that the work authorship belongs to them, too.

Key-words: Field motions. Woman. Work. Union. Emancipation







INTRODUÇÃO

Nem sempre a sociedade esteve organizada como está hoje. A sociedade é dinâmica. Estudando a história da humanidade, Marx observou que “do mesmo modo que o homem primitivo deve lutar contra a natureza para prover as suas necessidades, manter-se vivo e reproduzir-se, o homem civilizado é forçado, também ele, a fazê-lo, quaisquer que sejam a estrutura e o modo de produção”. (MARX, apud CLARET, 1985. p. 59).

Há milhares de anos os seres humanos deixaram sinais de sua existência. A organização do trabalho se desenvolveu de forma natural. Homens e mulheres viviam da coleta de frutos e da caça aos pequenos animais. Os grupos eram pequenos e sentiam medo diante da grandiosa natureza, por isso, a lei da solidariedade e da partilha determinava o comportamento grupal.

A mulher assegurava uma situação privilegiada, pois, era ela quem reproduzia a vida. O homem não sabia seu papel na procriação, pensava que as mulheres pariam dos deuses. Eram as mulheres que governavam e o faziam por meio da persuasão e do consenso. Os interesses do grupo vinham acima e além dos interesses pessoais.

Quando a natureza tornou-se menos exuberante, foi preciso correr atrás dos alimentos. Iniciou-se o período da caça aos grandes animais. Assim, o homem passou a sentir-se superior à mulher, a autoridade passou a ser exercida pela força. Já era necessário guerrear contra outros grupos para conquistar território e alimento. Os grupos humanos deixaram de ser nômade, aperfeiçoou a agricultura, que a mulher havia descoberto, produziram instrumentos de trabalho.

Os grupos dividiram as terras entre si e tornaram-se sedentários. Logo, fundaram as primeiras fazendas, as primeiras aldeias, as primeiras cidades, as primeiras cidades-estado, os primeiros estados e, finalmente, os impérios.

A produção de excedentes agrícolas gerou acúmulo de riquezas. A luta pelo poder tornou-se evidente. A lei de solidariedade foi substituída pela lei da competitividade. Nasceu o individualismo. E, com ele, a lei do mais forte.

Neste período, a condição da mulher mudou. O homem descobriu seu papel no ciclo reprodutivo e, usou sua força física para controlar a sexualidade feminina. A linhagem não era mais através da mulher, e, sim, do homem. Portanto, se ela tivesse um filho fora do casamento, isso podia comprometer seriamente a herança e a posse da terra. Assim, ela tinha que sair virgem das mãos do pai e chegar virgem às mãos do marido. Qualquer transgressão da virgindade ou adultério da mulher era punido com a morte.

As mulheres que até então tinham uma vida independente e possuíam prestígio social, perderam sua posição. Foram reduzidas ao âmbito da casa e da criação dos filhos, pois, para a sociedade competitiva, quanto mais filhos, mais força de trabalho barata e maior o número de soldados para defender a terra dos reis. Ela tornou-se submissa ao homem, não podia trabalhar fora de casa e, portanto, a sua subsistência era provida pelo homem. Assim, a partir da dominação econômica, no passar das gerações, a mulher desenvolveu uma submissão psicológica, introjetada à sua condição de inferioridade em relação ao homem.

Com a invenção da máquina a vapor, tornou-se possível a construção de teares e substituiu-se a força humana pela força mecânica. A condição da mulher na era industrial sofreu grandes transformações. Passou a trabalhar nas fábricas com salário e posição inferior ao homem. Durante muito tempo foi deixada na sombra da história.

Para as mulheres, o século XIX ficou marcado como o período das denúncias sobre a condição de opressão, imposta, no mundo do trabalho. Promoveram manifestações e passaram a reivindicar o direito ao voto, o direito a educação, melhores salários e condições de uma cidadania plena. A luta era contra a cultura patriarcal e desejavam uma sociedade sem divisões de classes.

A partir da metade do século XX, as mulheres organizaram-se em diversos movimentos sindicais e sociais. Tais movimentos foram organizações que se opuseram às instituições tradicionais. Na década de 90, as mulheres representavam cinqüenta por cento da força de trabalho mundial. Desempenhavam a mesma função que o homem e sua remuneração era inferior.

A participação das mulheres brasileiras nas associações, nos sindicatos, na política, não é um fenômeno recente, mas teve um impulso significativo com a organização dos movimentos autônomos. Esses movimentos ganharam rapidamente alcance nacional, redimensionaram seriamente a representatividade sindical.

A criação de diversas entidades ligadas ao Estado, dedicadas aos temas das mulheres, como os Conselhos Estaduais sobre a condição da mulher ou Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, também ampliou as informações vividas por elas. Desta forma, a existência de movimentos fortes e variados legitimou a organização de mulheres rurais que procuraram enfocar interesses e demandas específicas.

A história do movimento das mulheres rurais, no Sul do Brasil, emergiu da forte organização dos sindicatos dos trabalhadores rurais. Tais sindicatos ligados a Central Única dos Trabalhadores - CUT e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, unido a Via-Campesina. Estas entidades desenvolveram projetos de estudos e ações práticas que propagaram a luta e, conseqüentemente, conquistaram a autonomia política.

Procuramos recompor a posição da mulher no campo, sua importância social, política e econômica no Brasil, entre 1945/90. Desvelar, por trás das entrevistas e documentos, a presença anônima, mas constante, do Movimento das Mulheres Camponesas - MMC. O objetivo geral desta pesquisa é sistematizar o processo de organização e luta do Movimento de Mulheres no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina entre 1980/90. Em Concórdia-SC, no mesmo período, buscamos compreender o movimento das mulheres ruralistas, sua política de trabalho, sua participação na estrutura produtiva, suas tarefas domésticas, suas tarefas familiares e como essas mulheres reagem socialmente.

Sabemos que a reinterpretação da história é necessária, pois, quando as culturas mudam, as concepções dominantes mudam igualmente, então, surge a necessidade de um novo ponto de vista e assim reescrevemos a história. Optamos por historiar esta monografia através de uma leitura dialética, compreendendo o todo e as partes, as parte e o todo, o geral e o particular, o nacional e o regional, a fim de discutir a importância dos movimentos do campo e sindicais na organização das mulheres.

Para tanto, dividimos o presente estudo em três capítulos.

No primeiro, fazemos uma apresentação do surgimento e organização dos movimentos sociais do campo, a partir da quarta década do século XX até a década de 90. Analisamos o surgimento dos sindicatos e o papel que desempenharam no ambiente político, econômico e social até o período da sindicalização feminina.Tratamos de alguns aspectos das rivalidades governamentais, trocas de presidentes e atuação destes, durante as manifestações sociais. Ainda neste capítulo, traçamos um breve panorama da economia brasileira, para compreendermos as relações de trabalho.

A força atuante da mulher, nos movimentos sociais é abordada no segundo capítulo. Apontamos a importância dos movimentos do campo e sindicais para o reconhecimento e desenvolvimento da condição da mulher na sociedade brasileira. A atenção especial é dada às várias conquistas efetivadas pelas mulheres no campo político. Deixaram de participar silenciosamente da história, resistiram, lutaram, organizaram-se de forma autônoma e alcançaram vitórias significativas.

Destacamos também a organização dos movimentos de mulheres no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A partir da identificação da região e suas histórias a serviço dos movimentos de luta pela terra, apresentamos experiências ousadas. A luta feminina no campo, nos dois estados, emergiu da forte organização dos sindicatos de trabalhadores rurais, ligados a Central Única dos Trabalhadores - CUT e no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST. As mulheres participavam nas lutas sociais, como parte dos movimentos existentes, discutimos temas de classes e do mundo do trabalho. Entretanto, eram censuradas em suas próprias casas e caminhavam em busca de um movimento autônomo.

O último capítulo é dedicado às implicações do Movimento das Mulheres Camponesas – MMC, no município de Concórdia – SC, no período de 1980/90. A mulher agricultora construiu no campo sua identidade e as transformações externas rebateram nas diversas dimensões da vida camponesa, afetando categorias nucleares. Também discutimos o mundo do trabalho da mulher camponesa. Apontamos que o capitalismo, ao mesmo tempo em que cria condições para a emancipação da mulher, acentua a sua exploração ao estabelecer uma relação entre a precarização do trabalho e a mulher, criando formas diferenciadas de comercialização do trabalho excedente.

O estudo fundamentou-se, sobretudo, através das fontes históricas escritas e publicadas. Outra fonte de pesquisa foi a história oral. Sem comprometer os entrevistados e colaboradores, registramos que a autoria do trabalho também lhes pertence.

Nosso estudo não tem pretensão de ser definitivo, mesmo porque não partilhamos de grandes respostas. É, na verdade, uma monografia que segue olhando para o futuro, essa grande dimensão que a racionalidade nos colocou mais próxima.


1 MOVIMENTOS RURAIS: LUTA CONTRA O AUTORITARISMO - (1945/90)

Em 1945, com o fim do Estado Novo, o Brasil passou por um processo de intensificação industrial, por uma redefinição do papel da agricultura na economia. A constituição de um projeto desenvolvimentista atingiu fortemente os trabalhadores do campo. As transformações afetaram setores sociais, políticos e econômicos.

No setor econômico, a indústria tornou-se mais diversificada, atividades como metalurgia, mecânica, elétrica e transporte dobraram sua participação no mercado. Somavam-se às atividades têxteis, vestuários, calçados, alimentos, bebidas, fumo e mobiliário. Todas, porém, carentes de mão-de-obra barata para a nascente indústria da cidade.

Na área rural as oligarquias continuavam donas das terras, porém, não detinham mais o poder político. Para manter-se no poder foi necessário unir-se à elite industrial, que passou a deter o poder econômico e, conseqüentemente, o poder político. Esta união entre proprietários rurais e industriais originou uma exploração agrícola destinada ao mercado interno, com grandes garantias de lucro. Foi um processo de modernização capitalista da grande propriedade rural.

Em 1950, no estado de Pernambuco, as mudanças econômicas e políticas movimentaram a organização de camponeses. A união dos agricultores, na luta pela terra, envolvidos em várias situações de conflito, estendeu-se aos poucos em outros estados. Tal organização deu origem às Ligas Camponesas. Este movimento de trabalhadores marcou o início das primeiras discussões sobre reforma agrária no Congresso Nacional (FAUSTO, 2003, p. 364; MARTINEZ, 1987, p.42).

Depois de Pernambuco, as Ligas Camponesas ampliaram sua organização por vários estados do Nordeste, passam a atuar na Paraíba e no Rio Grande do Norte. O movimento não tinha formalidade organizativa, apesar da existência de estatutos. Para resolver problemas específicos, os camponeses reuniam-se em suas localidades e planejavam os caminhos do grupo. A coletividade proporcionava uma direção política. (MORAIS apud STEDILE, 2006. p 12).

Entre 1950/60, além das Ligas Camponesas, organizadas no Nordeste, e o Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), no Rio Grande do Sul, surgiu no estado de São Paulo, criada pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas (Ultab). Tinha por finalidade a coordenação das associações camponesas e a criação de condições para uma aliança política entre operários e trabalhadores rurais (MORAIS apud STEDILE, 2006. p. 48).

Medeiros (1989, p.31), em sua obra, “História dos movimentos sociais no campo”, escrita em 1989 descreve que na II Conferência Nacional dos Lavradores Agrícolas, em termos de participação, considerando as dificuldades de organização e deslocamento da época, participaram 303 representantes de 16 estados e mais de 20 líderes sindicais operários. Diversos temas foram discutidos nesse encontro. Entre eles, o direito de organização em associações e sindicatos, direito de greve, reforma agrária, previdência social e reivindicações por categorias de trabalhadores presentes ao encontro.

Por constituir em uma experiência do PCB, a Ultab objetivava reunir um grande número de filiados e de eleitores. Já em 1962 o número de organizações filiadas era 10 vezes superior às Ligas Camponesas. Sua tática consistia na acumulação de forças através de um trabalho de apoio as reivindicações e interesses econômicos dos trabalhadores agrícolas (assalariados e camponeses). Ao contrário, as Ligas atuavam no sentido de despertar a consciência política entre os camponeses, para que no movimento pudessem decidir sobre seu caminho (MEDEIROS, 1989, p. 49).

Em 1960, no Rio Grande do Sul, nasce o Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), que reuniu boa parte das lideranças locais que lutavam pela reforma agrária. A partir da resistência de 300 famílias de posseiros no município de Encruzilhada do Sul, agricultores sem terra, parceiros, peões, pequenos proprietários e seus filhos iniciaram os acampamentos, uma forma particular de organizar suas ações. Esta não era uma proposta apenas de resistência na terra, e sim uma luta pela conquista da terra (MARISSAWA, 2001, p.94).

Diferentemente dos pernambucanos, integrantes das Ligas Camponesas, que resistiam para não serem expulsos da terra, a luta dos integrantes do Master era para assentar-se na terra. O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), no Rio Grande do Sul, apoiou o movimento. Com a derrota do partido nas eleições de 1962, o movimento passou a sofrer ataques do governo estadual, instituições e entidades. Nos anos seguintes sofreu repressão e enfraqueceu. Seus remanescentes, em 1979, criaram um forte movimento de luta pela terra, o Movimento dos Sem Terra (MST), que trataremos a seguir.

No ano de 1960, a Igreja Católica realizou um trabalho organizativo e mobilizador que culminou na criação de um setor de sindicalização rural - Serviço de Assistência Rural do Rio Grande do Norte (SAR). O objetivo foi de mobilizar e treinar líderes sindicais e dar orientações sobre a formação de sindicatos. O sindicalismo cristão combateu as ações comunistas. Como princípio negou a luta de classes e defendia a harmonia social. (MEDEIROS, 1989, p. 76-77).

Muitos setores da Igreja não aceitaram a postura conservadora dos sindicalistas cristãos e criaram a Ação Popular (AP), organização propriamente política e em âmbito nacional. Como mostra Leonilde de Medeiros (1989, p.78), “a prioridade que essa organização definiu para sua ação dizia respeito à organização de operários e camponeses, baseada nas “exigências concretas das massas”. É desse ponto de vista que a Ação Popular voltou-se para o trabalho de sindicalização rural, de perfil socialista. Na época, os integrantes passaram a ser denominados católicos radicais.

Evidenciamos quatro forças que estabeleceram o movimento camponês no início dos anos 60. Cada qual procurou articular segundo seus princípios: as Ligas Camponesas, o PCB, a Igreja Católica e, finalmente, os chamados católicos radicais representados principalmente pela Ação Popular.Todas passaram por um processo de intervenção ativa do estado populista, com a legislação. O estado burguês colocou em ação a contra-ofensiva: a sindicalização rural.

Como a legislação só permitia a existência de um sindicato rural em cada município, instituíram uma verdadeira corrida entre as diferentes forças políticas, que atuavam no campo, em busca do reconhecimento. Tratava-se de conseguir a carta sindical, através do encaminhamento da documentação ao Ministério do Trabalho ou, através de pressão no interior da Comissão Nacional de Sindicalização Rural.

Segundo Octavio Ianni (1961, p.195), em “A constituição do proletariado agrícola no Brasil”, o sindicato rural

[...] é muito mais que o resultado combinado das reivindicações do trabalhador rural e da atuação do Estado. O sindicato rural aparece como uma técnica social de institucionalização das relações de produção, segundo as exigências de um Estado capitalista em face de rápido amadurecendo. Em especial, ele surge como uma técnica de formalização do mercado de trabalho no setor agrícola.

Os sindicatos de trabalhadores rurais foram regulamentados em 1962, no governo de João Goulart (Jango), seguindo duas portarias do Ministério do Trabalho e Previdência Social: portaria n° 209-A, de 25/6/1962, elaborada e publicada durante a gestão de Franco Montoro à frente do Ministério, e portaria n° 355-A, de 20/11/1962, assinada por João Pinheiro Neto. Os sindicatos já existentes passaram a ser reconhecidos e outros passaram a se organizar. (COLETTI, 1998, p. 51).

Neste contexto, no Rio Grande do Norte, em Natal (1963), aconteceu a primeira Convenção Brasileira de Sindicatos de Trabalhadores Rurais, que propôs a criação de uma confederação sindical, unindo as iniciativas da Ultab, que aglutinava a maioria dos sindicatos existentes até então, e os sindicatos ligados ao trabalho da pastoral da Igreja Católica. Em dezembro, do mesmo ano, nasceu a Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag).

A fundação da Contag foi um grande acontecimento na história do sindicalismo rural brasileiro, pois, em poucos meses de funcionamento, reunia um milhão de trabalhadores do campo, a maioria associada da Ultab. Os membros, timidamente passaram a apoiar medidas da reforma agrária propostas pelo governo federal, baseadas na expropriação e distribuição de terras em zonas de conflito.

Em outubro de 1963, o Congresso brasileiro rejeitou a emenda constitucional que autorizava a desapropriação de terras sem prévia indenização. Jango, presidente no período, recebeu duras críticas, principalmente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e dos meios militares. Para o Historiador Boris Fausto (2003, p. 459), a implantação das reformas de base teria sido o rumo tomado por Jango. “Para mostrar a força do governo, reuniria grandes massas em uma série de atos onde iria anunciando as reformas”. Dois decretos foram assinados diante da atitude do Congresso: no primeiro, consistiu na desapropriação das refinarias de petróleo que ainda não estavam nas mãos da Petrobrás. O segundo, chamado decreto de Supra - Superintendência da Reforma Agrária – declarou sujeitas a desapropriação as propriedades sub-utilizadas, especificando a localização e a dimensão das que estariam sujeitas à medida.

O ato das reformas de Jango apressou os conspiradores. O golpe militar de 1964 impediu a remota possibilidade de reforma agrária. Através de uma série de decretos, chamados de Atos Institucionais (AI), o presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, determinou violenta repressão contra os movimentos de luta pela terra e outros movimentos sindicais que haviam experimentado um processo inicial de articulação. A nova política ditatorial enfraqueceu os movimentos sociais. Desmobilizar era necessário, para se manter a luta viva.

O estrago imposto pelo golpe militar, ao movimento popular e democrático, atentou certo imobilismo político ao país e retardou o novo sindicalismo para a década de 1970. Os governos autoritários socorreram-se durante anos num aproveitamento de soluções meramente técnicas e/ou racionais, desprezaram o aspecto humano dos problemas.

O período autoritário (1964-85) esteve associado a três distintos desempenhos da economia nacional. Na fase inicial do regime militar (1964-67), que terminou sendo acompanhada por um baixo alargamento do conjunto das atividades econômicas no Brasil, prevaleceu o uso da coerção na condução de várias reformas de modernização conservadora. No período seguinte (1967-80), aconteceu tanto a institucionalização do autoritarismo como a industrialização iniciada ainda na década de 1930. Por fim, na fase final do regime militar (1980-85), ocorreu gradual liberação do autoritarismo pressionado pelo agravamento da crise socioeconômica e pelo progresso das forças democráticas no país (POCHMANN, 2004, p. 77).

Segundo o historiador Alzumir Rossari (2006, p. 100), no artigo, “Movimento sindical urbano de Chapecó e Concórdia”, no Brasil “logo após o golpe militar, sofreram intervenções do Ministério do Trabalho 409 sindicatos, 43 federações e 04 confederações, sendo que aproximadamente 10 mil trabalhadores foram banidos da vida sindical”. A ditadura militar, implantada em 1964, comprometeu a resistência da classe trabalhadora, desmobilizou as organizações sindicais ativas, interferiu em um grande número de sindicatos, derrubou suas diretorias, perseguiu seus dirigentes e nomeou interventores para gerir as entidades.

No decorrer do desenvolvimento capitalista em curso, a agricultura passou a sofrer rápidas transformações políticas e econômicas que resultaram na sua modernização. Para Marchesan (2003, p. 95-7), em “A questão ambiental na produção agrícola: um Estudo Sócio-Histórico-Cultural no município de Concórdia”, a passagem da agricultura dita tradicional para a agricultura moderna aconteceu paralelamente ao acelerado crescimento urbano, que se deu em função do processo de industrialização “e que tem gerado a necessidade de adaptar o setor agrícola nacional ao desenvolvimento capitalista mundial”.

A partir da década de 1960, um rápido avanço tecnológico no setor agrícola ocorreu. A chamada revolução verde nasceu em pleno contexto da guerra fria, como uma estratégia de revolução para o campo. O aumento da produção de cereais através de pesquisas genéticas permitiu variedades mais resistentes às pragas, às variações climáticas e mais produtivas. Esse novo pacote tecnológico propunha a utilização de sementes melhoradas ou de alto rendimento, que exigiu a introdução de insumos químicos, irrigação, mecanização agrícola. Porém, como ocorreu sem a devida distribuição de terras, acentuou os problemas fundiários relativos à posse da terra e também contribuiu para a expansão da erosão dos solos, a poluição das águas e o extermínio da biodiversidade.

No decorrer deste processo de mudanças na agricultura, as propriedades rurais passaram a compor os complexos agro-industriais e depender de insumos que eram recebidos das indústrias. Além de bens de consumo final, passaram a produzir bens intermediários ou matérias primas para outras indústrias de transformação. Para a agricultura brasileira, a modernização não teve um impacto uniforme em todas as regiões e nem em todos os grupos de produtores. Privilegiou-se as regiões mais desenvolvidas e os grandes produtores rurais, aumentou ainda mais a acumulação de capital nesse segmento.

Essa dinâmica gerou uma nova ordem de relações econômicas e sociais no meio rural brasileiro, com forte impacto no trabalho. A integração com a indústria não apenas determina mudanças nos cultivos das grandes propriedades e na utilização da mão-de-obra assalariada, mas atingiu também a agricultura familiar. A decisão sobre o que produzir e como produzir passou a concentrar-se na rede produtiva e não mais no agricultor.

O aumento da exploração sobre as forças produtivas do campo acentuou, ainda mais, a condição de submissão. Segundo Marx (apud SANT’ANNA, 1985, p. XL), “o modo de produção capitalista se afirma à medida que dispensa os processos de acumulação originária e difunde processos específicos de exploração e valorização, que conduzem à produção de mais-valia”. De certo modo ao interagir, de maneira própria, com a opressão de classe, e as demais formas de opressão, nascem mecanismos de luta que emergem através de vozes e da rebeldia, em todos os tempos históricos.

No final dos anos 70 surgiram os primeiros sinais do esgotamento do regime militar. Rossari (2006, p. 100), descreve que “a riqueza nacional se concentra na mão de poucos e, na outra ponta, há uma legião de pobres e miseráveis”, Revela ainda que “nos anos 80, o Brasil é outro; de um país predominantemente rural passa a ter a maioria de sua população vivendo nas cidades”. As massas urbanas fazem ressurgir as greves, muitos sindicatos renovaram suas práticas, trazendo novas críticas e formas de expressão. A luta pela anistia e a condenação econômica e política ao regime ganharam fôlego.

A realização da I Conferência Nacional da Classe Trabalhadora - Conclat, em agosto de 1981, é marcada pela representação de diferentes correntes no interior do sindicalismo. Nos anos seguintes corporificou-se a criação de duas centrais sindicais: a Central Única dos Trabalhadores (1983) – CUT, e a Confederação Geral dos Trabalhadores (1986) – CGT. Ambas, desenvolveram papel importante na constituição e organização das reivindicações dos trabalhadores. (MEDEIROS, 1989, p. 122).

Na ascensão dos movimentos sociais, no fim da década de 70 e adentrando as décadas de 80 e 90, reaparecem as primeiras ações pela reforma agrária no campo, com intuito de uma sociedade mais justa. Acredita João Pedro Stedile (2005, p. 187) que “a reforma agrária no Brasil deve combinar uma política de “massiva” distribuição de terras com uma política agrícola que combata o atual modelo agrícola implantado nas últimas décadas”. Ainda, descreve que é a concentração da propriedade da terra, que mantém as riquezas naturais, a agricultura e o poder político nas mãos de uma minoria, é uma das principais fontes de injustiças sociais.

Os vinte anos de ditadura militar reprimiram as organizações e os partidos de esquerda e o debate em torno de programas de reforma agrária só foi retomado, com o processo de redemocratização do país. Surgiram novos movimentos sociais no campo, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST. Numa grande ousadia, levantaram novamente a bandeira da reforma agrária.

A ocupação da fazenda Magali, em Ronda Alta no Rio Grande do Sul, em 1979, pode ser considerada o embrião da atuação do MST. Para o dirigente do movimento hoje, João Pedro Stedile (1997, p. 56), “o sem-terra é uma pária, está fora da sociedade, não tem acesso aos valores sociais. O MST é uma coletividade de párias, certamente a única organizada, a mais consciente em relação a sua identidade e a seu sentido, e por isso a mais competente”. Verifica-se a contradição: “é uma coletividade de condenados que se fez sujeito da história para revogar a sua condenação”.

Em janeiro de 1984, ocorreu o primeiro encontro do MST em Cascavel, no Paraná. Dentre as decisões tomadas, o movimento reafirmou a necessidade da ocupação como uma ferramenta legítima dos trabalhadores rurais. A partir daí, o movimento passou a ser pensado com objetivos e linhas políticas definidos, incorporou perspectivas que vão muito além da luta pela terra, engrossou as fileiras e muitas outras lutas e mobilizações sociais na busca por uma transformação social mais ampla.

Outro movimento sindical rural, de grande importância no decorrer, foi a Via Campesina. Uma articulação internacional de movimentos camponeses, que pôs em discussão questões como a reforma agrária, agroecologia, soberania alimentar, comércio, gênero, direitos humanos, agricultura camponesa sustentável, migrações e trabalhadores agrícolas assalariados, biodiversidade, biosegurança e recursos genéticos e, o fim de pesquisas e comercialização de transgênicos. Constituiu-se em Mons, na Bélgica, em maio de 1993, onde foram fixados os objetivos e princípios fundamentais que têm marcado a história da organização.

No Brasil, incorporaram-se à Via Campesina, movimentos como a Comissão da Pastoral da Terra – CPT; o Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB; o Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA; o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra – MST e a Articulação Nacional das Mulheres Trabalhadoras Rurais - MMTR.

Como vimos, o processo de modernização atrelado ao estado brasileiro, mudou o cenário populacional do campo. A fuga da situação opressora, ora como forma de ascensão sociofinanceira, ora como saída para continuar vivendo e sobrevivendo, levou milhares de trabalhadores rurais a migrar para áreas urbanas. Ocorreu o inchamento populacional nas metrópoles e nas capitais dos estados. O Brasil, de um país predominantemente rural, passa a ter a maioria de sua população vivendo nas cidades. O êxodo rural transformou a maioria das cidades (VALIM, 1996, p. 16).

O período acendeu discussões, através do debate, sobre liberdade e autonomia sindical. Um sindicalismo que se propõe independente, classista e reformulador, em oposição ao sindicalismo atrelado ao Estado. A campanha pelas diretas, por exemplo, realizada em São Paulo, em novembro de 1983, com todas as reivindicações que a acompanhou, traduziu de forma exemplar a ebulição em que vivia o país. Do ponto de vista dos trabalhadores rurais, significou, antes de qualquer coisa, a esperança na reforma agrária.

2 FORÇA ATUANTE NOS MOVIMENTOS SOCIAIS - (1945/90)

A existência de movimentos sociais fortes e variados, primeiramente no campo, depois urbanos, legitimou a organização dos movimentos de mulheres. Na busca do reconhecimento, as mulheres procuraram mostrar o desenvolvimento da condição da mulher na sociedade brasileira através dos tempos: sua vida, seus anseios, sua maneira de pensar e participar dos acontecimentos culturais e políticos, na família e no trabalho.

Até os anos 60, mais da metade da população brasileira residia no meio rural, inserida em regimes de produção familiar ou de assalariamento informal e instável. Mesmo nos centros urbanos, muitas das oportunidades de trabalho remunerado assumiam as formas mais variadas, muito distante do assalariamento formal.

O enorme contingente de produtores rurais e de trabalhadores não-assalariados continuou sem reconhecimento social, permanecendo fora da reciprocidade contratual e tendo de aguardar vários anos pra atingir seus direitos previdenciários. Lembramos que o sistema previdenciário foi criado em 1932; a unificação dos serviços do sistema de previdência social aconteceu em 1966; e que o acesso à previdência pelos trabalhadores rurais só ocorreu em 1971.

A instituição do ano de 1975 como Ano Internacional da Mulher, promovido pela Organização das Nações Unidas – ONU, foi um pretexto suficientemente forte para desencadear a manifestação das idéias feministas e a ação da mulher.

A manifestação do movimento de mulheres e do feminismo ocorreu num contexto de expressivo crescimento da presença das mulheres, no mercado de trabalho brasileiro. “Em 1970, a força de trabalho feminina correspondia a 18 % do total da produção feminina de dez anos ou mais de idade, porcentagem que subiu para 35 % em 1978” (LIMA, 2006. p. 17).

Na década de 80, em sintonia com o surgimento de vários movimentos no campo, as mulheres formaram diversas organizações. Não que antes as mulheres estiveram ausentes dos movimentos sociais e não participaram ativamente nas organizações de luta, pelo contrário, a participação ocorreu na ação concreta internamente nos movimentos e, em outras ocasiões, assumiram e garantiram, sobretudo com seu trabalho, a manutenção e o sustento da organização familiar.

Na realização da I Conferência Nacional da Classe Trabalhadora - Conclat, em agosto de 1981, em São Bernardo do Campo - SP, é registrado um debate com a proposta para a criação de um departamento de mulheres. Na presença de representantes sindicais dos vários movimentos sociais, a proposta não foi aprovada. No entanto, as mulheres se mobilizaram dando continuidade aos seus propósitos. Buscaram a democratização dos espaços políticos, em uma sociedade justa e igualitária. Exigiram o respeito às diferenças e a diversidade.

No III Encontro Feminista Latino-Americano realizado em Bertioga (SP), em agosto de 1985, movimentos feministas urbanos somaram-se com trabalhadoras rurais brasileiras para discutir com peruanas, sobre suas lutas. Segundo Maria Amélia de Almeida Teles (2003, p. 140), em “Breve histórico do feminismo no Brasil”, “elas pediam solidariedade, ao falar de suas crianças desnutridas e famintas e daqueles que morreram durante a longa caminhada; e de seus maridos que há meses não recebiam nenhum salário”. Para a autora que já foi presa política, hoje militante feminista, o momento de desabafo das representantes latinas foi muito importante, “o mundo cresceu para as trabalhadoras [...] E, de repente, elas descobriram outras mulheres que também enfrentavam uma vida difícil de viver”. Fundamentalmente, o grito era o mesmo.

Nos encontros, contavam suas vidas. Em seus depoimentos discorriam sobre o cotidiano, sempre sofridos. Os principais assuntos discutidos foram: a participação sindical, a guarda dos filhos, a saúde da mulher, a previdência social, a infra-estrutura no local de trabalho e a reforma agrária. Delatavam corajosamente atrocidades contra mulheres e crianças. Um exemplo é o Encontro Nacional da Mulher pela Constituinte, em que se denunciou o assassinato de 29 mulheres, 11 menores, em 1985 e 1986, por pistoleiros a mando dos fazendeiros e latifundiários, no estado de Goiás (TELES, 2003, p. 140).

As experiências de vida relatadas pelas mulheres rurais mostraram que no seu cotidiano não havia uma distinção entre os limites do lar e do trabalho. No campo, a autoridade do chefe de família, do pai ou do marido, extrapolava o espaço doméstico e muitas vezes impunha, negando a participação das mulheres nas decisões nas cooperativas, nos bancos, nas associações de produtores e nos sindicatos.

As mulheres do segmento urbano estiveram em contato com o trabalho exaustivo das fábricas... No mundo do trabalho, foram reservados para as mulheres os espaços específicos que, na maioria das vezes, caracterizam-se pela inferioridade hierárquica, pelos salários menores e por atividades adaptadas a suas capacidades inatas. Conheceram rapidamente o sistema capitalista discriminador.

O capitalismo brasileiro intensificou o padrão de acumulação industrial. Num primeiro momento estruturava-se através da produção de bens duráveis, para um mercado interno restrito, ou seja, da classe dominante. No segundo momento, visava a produção para a exportação, não só de produtos primários, mas também de produtos industrializados de consumo. Tal processo foi marcado por uma redução no salário dos trabalhadores, por uma superexploração e pela jornada de trabalho prolongada. Em contrapartida, atraiu o capital externo (ANTUNES, 1999, p. 236).

A combinação surperexploração da força de trabalho com padrões produtivos e tecnológicos mais avançados, surge como mudança do processo produtivo nos anos 80, num ritmo mais lento e se acentua na década de 90, com o processo de reestruturação produtiva e do projeto neoliberal. Não há dúvida no interesse de mão-de-obra qualificada e preparada para operar equipamentos microeletrônicos com menos dispêndio salarial. Ocorre a precarização das condições de trabalho, e, especialmente, da força de trabalho feminina.

A participação da mulher no mercado de trabalho deu-se de forma crescente, acompanhando o processo de industrialização e urbanização da sociedade brasileira. Para Araújo (2002, p. 133), “um contingente de mulheres ocupa posições não qualificadas, com vínculo empregatício e condições precárias, mal remuneradas e sem proteção social”.

Nas periferias dos centros urbanos, a falta de creches foi assunto presente nas reuniões. A luta levou a um grande debate ideológico a respeito do papel da mulher e da família. A creche era mesmo lugar ideal para educar as crianças? Maria Amélia de Almeida Teles (2003, p. 104) conta que o primeiro slogan do movimento dizia: “O filho não é só da mãe”. Em 1984, O Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo fez um levantamento da situação das creches construídas. Constatou-se que, das 60 mil indústrias do Estado de São Paulo, 38 mil mantinham berçários e creches nos locais de trabalho. A autora exemplifica o respaldo do movimento.



3 ORGANIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS DE MULHERES NO RIO GRANDE DO SUL E SANTA CATARINA – 1980/90

Nas áreas rurais, as trabalhadoras, a partir da década de 80, passaram a promover encontros regionais, levantaram as dificuldades de seu trabalho e fizeram reivindicações. No campo, a organização das mulheres estava ligada aos sindicatos de trabalhadores rurais e às lutas dos Sem Terra, bem como, com o Partido dos Trabalhadores – PT. Estas iniciativas populares compartilhavam um enfoque ideológico que privilegiava o confronto com o Estado e a organização da classe trabalhadora.

É importante ressaltar que no processo de organização das trabalhadoras rurais, a luta para o rompimento das desigualdades de classe e de gênero, está unida à luta das Ligas Camponesas, da Igreja Católica, dos sindicatos, dos movimentos feministas, dos partidos de esquerda, das Centrais Sindicais e da Via Campesina.

A história das mulheres rurais no sul do Brasil emerge da forte organização dos sindicatos dos trabalhadores rurais, ligados a CUT- Central Única dos Trabalhadores e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, unido à Via-Campesina. É na agricultura familiar, na busca de autonomia, na defesa da classe trabalhadora, no combate contra o machismo, na luta contra a exploração e pelos direitos e no compromisso de respeito com a natureza que assumem com seus parceiros, filhos e com as comunidades, que este movimento brotou.

No estudo apresentado por Lynn Stephen (apud NAVARRO, 1996, p. 28-9), em Porto Alegre, “o Movimento de Mulheres Rurais do Rio Grande do Sul – MMTR é uma forte organização regional, tendo sido formada por mulheres antes envolvidas nos sindicatos de trabalhadores rurais e no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra”. Continua, “registrando atualmente uma base aproximada de 25 mil mulheres, em mais de 100 municípios daquele Estado”.

O leque de ações desse movimento evoluiu de suas reivindicações iniciais por direitos previdenciários e trabalhistas extensivos às mulheres rurais para as demandas por direitos reprodutivos, violência doméstica, representação das mulheres no sistema político e direitos em geral. Lutavam por mudar suas vidas e foram determinadas pela história específica de suas organizações.

O MMTR emergiu como um movimento autônomo, de mulheres rurais articulado, mas não subordinado a outros movimentos sociais e regionais. Citando Stephen (apud NAVARRO, 1996, p. 31), “no seu envolvimento anterior com outros movimentos, as dirigentes do MMTR foram relativamente marginalizadas [...] aprenderam com essa experiência, decidiram criar um modelo organizacional autônomo, porém, sem se distanciar da luta dos demais movimentos”.

Devido a diferentes estruturas de produção, em áreas rurais do Rio Grande do Sul, criou-se um vasto campo de interesses e demandas que os sindicatos de trabalhadores rurais não estavam preparados para incorporar. Entre as adeptas do MMTR, por exemplo, existiam pequenas proprietárias, mulheres sem-terra e algumas poucas mulheres proprietárias de estabelecimentos de maior área. Segundo Zander Navarro (1992, p. 21) “essas diferenças, assim, apóiam a noção de que o capitalismo desenvolve um espectro ampliado de possíveis identidades”. Neste caso, é inegável a complexidade dos movimentos sociais.

Outros fatores que dificultaram a organização do MMTR, no Rio Grande do Sul, bem como, em Santa Catarina, foram as estratégias de organização de movimentos como o MST, a CUT e entidades ligadas ao Estado. Todos angariavam mulheres e formavam departamentos especiais e estruturas organizativas para as mesmas, no interior de cada movimento. Ficava clara a forte presença da mulher.

Muitas pessoas, homens e mulheres, aliás, achavam que as mulheres deveriam se organizar como parte dos movimentos existentes, centrados em temas de classe e do mundo do trabalho. Entretanto, as reivindicações apresentadas pelas mulheres, nos encontros sindicais, eram incorporadas nos últimos itens, fator que indicava a falta de respeito dos homens pela luta das mulheres. Assim, o grupo que defendia um movimento autônomo, contudo, finalmente convenceu seus opositores e, em agosto de 1989, o MMTR foi criado (TELES, 2003, p. 112).

O documento da pré-tese da Segunda Assembléia Estadual do MMTR, realizada em Passo Fundo/RS, apresentou o trabalho desenvolvido pelo movimento. Em menos de quatro anos de atuação, a organização atingia aproximadamente 80 municípios e já congregava em torno de 15 mil mulheres em suas atividades. Estimava-se que 80% fossem pequenas produtoras e o restante formado por mulheres sem-terra. Dizia um registro: “Entendemos o Movimento mantendo uma relação complementar com outros movimentos” (MMTR, 1992, p. 5).

Em Santa Catarina, no final dos anos 70, iniciaram mobilizações no campo. Os protestos davam-se contra o extermínio dos suínos, ocupações de terra e oposições sindicais às entidades pelegas que dirigiam os sindicatos. É importante refletir sobre os sindicatos pelegos. Para Rossari (2006, p. 106-7), o sindicato torna-se pelego quando é um mero órgão burocrático, encarregado das homologações das rescisões de contratos de trabalho, de assistência médica e odontológica. Acrescenta, que “sem qualquer mobilização dos trabalhadores, celebra o Acordo Coletivo de Trabalho [...], mera reprodução de artigos que já estão assegurados na CLT”.

O sindicato pelego caracteriza-se por uma concepção de colaboração de classe, corporativista, de relação harmoniosa com o patronato e obedecendo fielmente o que a legislação burguesa e o Ministério do Trabalho estabelecem. Está atrelado ao Estado. Segundo o sociólogo Pedrinho Guareschi (1996, p. 89), o sindicato deveria ser “uma organização livre e autônoma de pessoas com finalidade de defender e promover seus direitos”. Esclarece: “Livre: entra quem quer, sai quem quer. Autônomo: independente, soberano, podendo discutir em pé de igualdade com qualquer outro sindicato ou organização”.

Em 1981, em Chapecó-SC, na eleição para o sindicato dos trabalhadores rurais, a chapa de oposição aos pelegos, contou com um pequeno grupo de agricultoras que percorreu todas as comunidades rurais. Nas reuniões, o objetivo era a sindicalização de mulheres. Discutiam sobre a terra, a política agrícola, o reconhecimento dos direitos da mulher.

A chapa de oposição ganha e as mulheres começam a se sindicalizar. Para Elaine Tavares (1992, p. 18), que conduziu a pesquisa, do material expediente, do gabinete da Deputada Federal Luci Choinaski – PT/SC, a conquista não mudou as relações entre homens e mulheres dentro do sindicato. “Os cargos que exercem são menores, ou secretárias ou suplentes, geralmente só para cumprir tarefa”. Então compreenderam que a primeira luta precisava ser a conquista do direito de ser diferente. Passaram a discutir gênero.

Em Chapecó – SC, em 1982, após a conquista da sindicalização, despertou nas mulheres o interesse e a importância delas participarem como agentes de mudança e transformação da sociedade. Esse pensamento começou a tomar corpo nas mulheres em 1983, juntamente com os agentes de pastorais da Igreja Católica, os quais organizaram grupos de mulheres nas comunidades do município.

Em 1983, no Oeste de Santa Catarina, na comunidade de Itaberaba, localizada no interior de Chapecó, as mulheres realizaram seu primeiro encontro. Coletivamente, demonstravam a indignação diante dos problemas, como: a discriminação, a violência, a opressão, a exploração, entre outras, motivou mulheres presentes a pensar soluções coletivas. No final do encontro, assumiram o compromisso de continuar se encontrando e convidar mais mulheres. O esforço resultou na criação do Movimento de Mulheres Agricultoras de Santa Catarina – MMA/SC, hoje, Movimento de Mulheres Camponesas – MMC.

Em Chapecó/SC, no dia 8 de março de 1984, Dia Internacional da Mulher, o MMA fez sua primeira manifestação pública e reuniu 500 mulheres. No ano seguinte, na mesma cidade e comemorando o Dia Internacional da Mulher, três mil mulheres vão para a praça discutir questões como aposentadoria, saúde, educação, reforma agrária, falta de terra e discriminação.

A primeira assembléia estadual organizada pelo Movimento das Mulheres Agricultoras ocorreu em Chapecó, em 1986, sob o lema Mulheres unidas jamais serão vencidas. Neste encontro do MMA/SC, as mulheres começaram a eleger e constituir o quadro da executiva estadual para posterior pauta dos Planos de Ações.

No mesmo ano, em abril, após a formulação das bases de lutas e reivindicações, as discussões centraram-se nas seguintes questões: abertura política, liberdade democrática, reconhecimento da mulher camponesa como agricultora e maior representatividade no cenário político. O movimento organizou uma caravana junto com as mulheres do Rio Grande do Sul e foram a Brasília exigir o reconhecimento da mulher camponesa como agricultora, além de benefícios iguais à trabalhadora urbana.

Na segunda Assembléia Estadual, em 1987, que também ocorreu em Chapecó-SC, estiveram presentes participantes do estado do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso do Sul, além de representantes de outras entidades como a CUT, CPT, MST e alguns sindicatos. Discutiram no encontro, os avanços e as dificuldades que enfrentavam os movimentos. Formaram a estrutura organizativa do MMA em nível de Estado.

Encontraram várias barreiras dentro da sociedade capitalista, competitiva e desigual. Lutavam para ser reconhecidas como sujeitos, mas, ao mesmo tempo, a luta não era só para elas. O pai, marido, companheiro, irmão eram igualmente explorados e espoliados no processo social. No enfrentamento, mulher versus capitalismo, o movimento estabeleceu relações com outros movimentos afins, para somar forças, que foram: MST, CPT, STR, PT e outros partidos de esquerda. Elas precisavam estar, de alguma forma, nos lugares onde as decisões eram tomadas. Então, passaram a alimentar o sonho de eleger uma agricultora para representar politicamente o movimento.

Depois de muitos debates nas comunidades, o movimento decidiu divulgar a candidatura da camponesa Luci Choinaski, lançada pelo Partido dos Trabalhadores – PT. A candidata era lavradora da cidade de Descanso-SC. No material de expediente, divulgado pela própria Luci Choinaski (1992, p. 23) consta que “não faltou quem sorrisse e duvidasse da empreitada. Poucos acreditaram na capacidade de mobilização da mulherada”.

Em 1986 a candidata Luci Choinaski foi a única Deputada Estadual eleita pelo PT. A organização se consolidou e continuou. Em outubro de 1990, concorreu ao cargo de Deputada Federal e tornou-se a primeira mulher agricultora a conquistar um mandato na Câmara Federal. O trabalho efetivado antes e depois da Constituição de 1988, foi determinante para que vencesse as eleições.

Além do Rio do Sul e de Santa Catarina, os movimentos de mulheres se consolidaram em diversos estados, em sintonia com os vários movimentos do campo. Em 1995, foi criada a Articulação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais, que reuniu mulheres dos seguintes movimentos: Movimentos Autônomos, Comissão Pastoral da Terra - CPT, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, Pastoral da Juventude Rural - PJR, Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, alguns Sindicatos de Trabalhadores Rurais e, no último período, o Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA.

Aos poucos, os movimentos de mulheres foram se fortalecendo nos estados, avançaram nas lutas específicas e gerais, na organização da base, na formação de lideranças e na compreensão do momento histórico que viviam. A partir dessa leitura, começaram a potencializar e unificar o movimento autônomo para ter a expressão de caráter nacional. Surge a nova denominação: Movimento de Mulheres Camponesas – MMC.

No conteúdo do documento, “Deliberações do Movimento de Mulheres Camponesas Brasil” (DELIBERAÇÕES, 2004, p. 2), resultado do primeiro congresso, realizado em Brasília de 5 a 8 de março de 2004, a categoria camponesa compreende a unidade produtiva camponesa centrada no núcleo familiar, a qual, por um lado se dedica a uma produção agrícola e artesanal autônoma, com o objetivo de satisfazer as necessidades familiares de auto-sustento e por outro, comercializa parte de sua produção para garantir recursos necessários à compra de produtos e serviços que não produz.

Neste sentido, mulher camponesa, é aquela que, de uma ou de outra maneira, produz o alimento e garante a subsistência da família. É a pequena agricultora, a pescadora artesanal, a quebradeira de coco, as extrativistas, arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, posseiras, bóias-frias, diaristas, parceiras, sem terra, acampadas e assentadas, assalariadas rurais e indígenas. A soma é a unificação destas experiências camponesas e a participação política da mulher.

A revista Camponesa – MMC/SC, em 2005, apresentava dados sobre o crescimento do movimento das mulheres em Santa Catarina. Somava 832 grupos de base, em 120 municípios de 18 regionais do estado. As Assembléias municipais, regionais e estaduais, constituíam a instância máxima de debates, aprofundamento, definições e deliberações das estratégias de lutas e trabalho dos Movimentos de Mulheres Camponesas, em Santa Catarina.


Fonte: Revista CAMPONESA, ano I, revista I, dezembro 2005. p. 6.

4 ESTUDO DO MOVIMENTO DAS MULHERES CAMPONESAS EM CONCÓRDIA 1980/90

Depois da fundação do primeiro núcleo de mulheres, em maio de 1983, em Chapecó, a discussão espalhou-se pelo campo. Em quase todas as cidades do Oeste de Santa Catarina nasceram sedes, e o movimento das mulheres passou a estender-se para diferentes locais.

A mulher agricultora construiu no campo sua identidade. Concórdia apresentava características socioeconômica pautadas no seu processo de colonização. O regime da pequena propriedade agrícola familiar, voltado para a prática da policultura e da pecuária, lentamente, foi sendo absorvido pelo mercado. Segundo Dilva Fengler , em entrevista, afirma que “anos atrás, nós não comprava quase nada, pouquinhas coisas, como o açúcar, café, o resto era tudo feito em casa. Acrescenta que sempre trabalhou na roça “ junto com o marido, [...] Planta, colhe,veneno nós não usava, só carpi. Tudo que era da agricultura nós dois fizemos”.

O trabalho, portanto, foi configurando-se como valor, como parte da cultura do povo. O agricultor, com a ajuda da família, deveria ser auto-suficiente e produzir alguns gêneros em quantidade maior para destiná-los ao mercado. Em “Terra, trabalho e família”, o autor João Carlos Tedesco (1999, p. 174-5), descreve as trajetórias e relações de trabalho da família no meio rural: “A família, no espaço rural da região, entendida também como grupo de convivência e de relações transcendentes em direção ao espaço parental, [...] é atravessada por uma dinâmica intensa e faz seus integrantes pensarem e repensarem a situação atual”.

A estrutura econômica dominante da família camponesa foi derivada da combinação entre produção, consumo e comercialização. A ordem e a subordinação patriarcal, em termos de idade, espaço de trabalho, espaço público e espaço do lar sempre marcaram e definiram o comportamento e o contato do agir diário dos indivíduos na família e nas ações sociais. Esse processo é dinâmico e é possível perceber no depoimento de Dilva Fengler: “Quando vivia junto co pai, eu só tinha livre o sábado e fazia limpeza também. Tinha que trabalhar de segunda até sexta à noite na roça, direto. Depois que eu casei não foi diferente”.

A mulher que viveu e trabalhou no campo, sempre mostrava sua atuação no trabalho “dentro de casa”, que se relaciona com a alimentação, a educação, a limpeza, a reprodução, etc. A jornada de trabalho diária se estendia “fora de casa”, na horta, nos estábulos, na plantação de pastos, no quintal, no jardim e no plantio de produtos de consumo interno. Diariamente, também, participava do “trabalho na roça”: plantar milho, feijão, trigo, soja, fazer roçada, ajudar a carregar sacos, porcos, frangos.

Em entrevista, Dilva Flengler relatou seu dia de trabalho: “De manhã eu levantava, tirava leite, depois arrumava o café, saía, deixava a casa do jeito que dava. Pegava as crianças e ia pra roça até meio-dia. Voltava com o marido, fazia almoço e à tarde nós voltava para o roça, de novo, até noite. Voltava, tirava o leite, cada um tomava seu banho, ia na cozinha e tomava chimarrão, jantava depois ia dormir. [...] ajudava em tudo o marido. Arrumava lenha, fazer quirela para os porcos, [...], eu tava sempre junto. Descarregar a carroça de milho, se ele ia lavrar, eu, atrás carpinando”.

A mulher tornou-se elemento ativo no modo de produção camponês. Sempre definiu a organização do lar, os espaços, o poder, os investimentos, a saída e a permanência de elementos no núcleo familiar. Entretanto, a idéia da administração familiar, está sob o ponto de vista social, centrado no homem. Isso oculta todo o trabalho realizado pela mulher. Se a família vai bem, mérito do homem da casa.

Quando a mulher, além de garantir a execução do trabalho que lhe foi determinado, ousou sair de casa para encontros organizativos, como: clube de mães, reuniões sindicais, cursos de artesanatos ou até mesmo para estudar, o ato passou a ser visto como um desafio. O homem sentiu-se ameaçado, como se tivesse deixado de mandar na família.

Nas palavras de Dilva Fengler apresenta-se as dificuldades encontradas por mulheres, no momento de organização e luta por seus direitos. “Quando comecei a participar dos movimentos, no começo não foi fácil, todo mundo criticava, ninguém entendia. Tu saía de casa nervosa, eu cheguei em Florianópolis minha pressão foi lá em baixo. Eu tava desesperada”. Nem por isso a entrevistada abandonou suas companheiras: “[...] eu vou lutar. Fomos a Porto Alegre [...], tem lugar que tu é rejeitada, tu te sente humilhada, tu sofre, tu come o que tu leva”. A representante de Ipumirim ressalta: “Eu gostaria que tivesse mais mulheres que lutassem, que entendessem como eu. Eu também não conhecia, agora tô contente, isso tá me ajudando bastante a conhecer as leis, conhecer o mundo, [...] eu gostaria que elas participassem, não iriam se arrepender”.

Diante desta realidade, o MMC, não criou muitas raízes em Concórdia. A maioria das militantes são pequenas proprietárias rurais e como tal enfrentam todo o processo de falência do sistema agrícola. A dificuldade econômica é uma responsabilidade a mais para a mulher. Para garantir a sobrevivência ela se sobrecarregou de trabalho e se sair para reuniões, quem irá fazer o trabalho? Para a mulher sair, precisa que o homem seja efetivamente um companheiro, que compreenda e participe.

Quando a mulher luta é por toda família, é por política agrícola, crédito, reforma agrária, educação de qualidade, saúde, aposentadoria, licença maternidade, etc. Segundo Herotides Romani com a luta nem sempre se conquistou o solicitado, mas, se aprendeu para a vida: “[...] no movimento eu posso aprender e ter amigos. Para as mulheres agricultoras é uma pena que elas não vão aprender mais, não é só pela luta, mas, a gente aprende muito. Elas pensam que perdem meio dia, mas em compensação elas estão ganhando”.

O primeiro núcleo é a base, e em Concórdia se encontra nas comunidades. Cada comunidade tem sua organização. Herotides da Silva Romani explica como o trabalho é desenvolvido: “Em Concórdia acontece o trabalho de base. Nós trabalhamos com 15 comunidades. Na participação, tu nunca tem um grupo grande. Dezessete, vinte pessoas, para divulgar o movimento de mulheres. Muitas não sabiam e foi deixado material para fazer reuniões e escolhido duas líderes por comunidade”.

As duas líderes escolhidas representam a coordenação municipal. A próxima instância é a coordenação regional, com duas mulheres por município. Acima está a coordenação estadual, dividida em secretarias de finanças, formação e comunicação. Desta coordenação são escolhidas, em assembléia, cinco mulheres que formam a diretoria executiva, que vai dar a direção do movimento. As discussões e decisões seguem um padrão democrático. Tudo é discutido na base e vai avançando, passando pelas coordenações fazendo, depois, o caminho inverso. É um processo dialético.

As dificuldades que as mulheres encontravam para se reunir, discutir, estudar sobre o movimento eram muitas. No entanto, quando obtinham certo nível de consciência sentiam-se parte do processo histórico e suas ações ganhavam visibilidade. Eram respeitadas. Herotides da Silva Romani lembra que, quando as militantes sentiam-se valorizadas e com êxito nas lutas, não esmoreciam, o que fica explícito quando expõe que “[...] mulheres chegaram a dize: eu levantei as três e meia da madrugada, pra poder vir nessa reunião. Porque já estão conscientes e que vale a pena ir”.

Em Concórdia, os encontros de base eram realizados nas igrejas ou escolas de cada comunidade e aconteciam em qualquer dia da semana. Nasceram como uma espécie de instrumento de resistência. Das animadas reuniões, ensino e saúde estavam no centro dos debates. Portanto, a relação de igualdade entre homem e mulher significa o nascimento de novos valores. Se não houvesse resistência e luta, não haveria transformação e continuaríam vivendo em uma sociedade antidemocrática. Se os homens freqüentavam espaços (bodegas, jogos) para divertimento, as mulheres também podiam.

De fato, a história não registrou o que pensavam, queriam e sentiam as mulheres ocupadas em cozinhar, atender, limpar, cuidar, plantar, educar, costurar, etc. A cada imagem de mulher apresentada correspondiam outras, que a história não revelou. A construção da sociedade de classes não surgiu do consentimento dos oprimidos. Foi produto da conspiração consciente de intelectuais, enraizados à classe exploradora, com o objetivo de fazer desaparecer as contradições sociais e naturalizar a sociedade de classes. Elaine Tavares (1992, p. 28) lembra que esses intelectuais eram geralmente homens, e enfatiza:

A história sempre foi escrita pela mão do homem, e nela, ele é o herói. O preconceito do “lugar da mulher” vêm desde os tempos mais remotos. A participação da mulher, o esclarecimento, significa poder. Sabendo, as mulheres podem, escrever a sua história, a assumir o seu lugar no mundo, sair da sombra. Isto assusta o homem .


Há muito que se estudar sobre a presença do Movimento de Mulheres Camponesas em Concórdia-SC. Muitas mulheres já participaram dessa história, escrita por mulheres e homens. Para que o trabalho possa ser continuado, interessa-nos enfatizar que a definição de cidadania é decorrente da participação das mulheres no mundo do trabalho, na medida que se envolve os direitos sociais. Também, é preciso lutar pela introdução de modelos capazes de valorizar a igualdade entre homem e mulher, através da partilha das responsabilidades, dos processos de decisões na convivência familiar e também na execução de diferentes atividades.

CONCLUSÃO

Resistência é lema da luta de uma multidão de oprimidos. O século XX foi marcado por muitos movimentos sociais que passaram a implicar decisivamente sobre os acontecimentos, mudando a face da história de alguns países e da própria percepção do indivíduo como sujeito histórico.

A construção de idéias, opiniões, em torno da sociedade de classes não surgiu do consentimento dos oprimidos. Foi produto da conspiração consciente de intelectuais, arraigados profundamente à classe exploradora, com o objetivo de fazer desaparecer as contradições sociais e naturalizar a sociedade de classes. Igualmente, utilizou-se de discursos que desempenharam importante papel no processo de dominação.

A maneira de compreender o que escondia-se sobre o mundo nasceu e apoiou-se nas ações objetivas do meio social. A concordância ideológica e a naturalização da exploração surgiram e consolidaram-se no valor e na resistência das relações sociais de expropriação. A força dos discursos produzidos pelos intelectuais, representantes do capital, nasceu dos interesses e história das relações sociais de dominação.

A exploração do homem pelo homem originou-se na organização social. Após uma possível democracia, as sociedades pré-classistas conheceram a dominação das mulheres pelos homens, dos jovens pelos velhos, dos estrangeiros pelos naturais. A sociedade de classes aprofundou a exploração, daquele que produz, por meio de uma rica multiplicidade de relações sociais de dominação.

O avanço da organização da classe trabalhadora superou as lutas econômicas, e, ao apontar a luta pelo poder, buscou formas de organização que possibilitassem o desenvolvimento das forças produtivas. A situação de exploração e miséria dos trabalhadores, aliada à teoria revolucionária, fez a classe trabalhadora buscar formas de organização para enfrentar o poder estabelecido.

No Brasil, surgiu um conjunto de movimentos sociais e várias iniciativas populares que apresentaram tentativas de ampliar oportunidades políticas para os segmentos sociais mais pobres. O objetivo era de remanejar fundos públicos, permitir o aperfeiçoamento das práticas administrativas locais e, em conseqüência, materializar um processo de democratização social.

A partir de 1945 até 1990, podemos citar vários movimentos ligados a luta pela democratização, como: as Ligas Camponesas, o Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas (Ultab), o Movimento dos Sem Terra (MST), o Serviço de Assistência Rural do Rio Grande do Norte (SAR), a Ação Popular (AP), a Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), a Comissão da Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), e o Movimento das Mulheres Camponesas (MMC).

Os movimentos de trabalhadores mostraram a capacidade de produzir argumentações, de instaurar o diálogo, de alcançar, por diversas vezes, o consenso para elaborar novas normas e atualizar valores e mecanismos de socialização. Representaram uma contribuição muito importante para o processo de amadurecimento da sociedade e para o aprofundamento das relações democráticas.
Os movimentos sindicais também se mostraram bons condutores das organizações sociais. Mesmo em longos períodos de clandestinidade, se envolveram nas lutas, formaram líderes, incentivaram a política dos trabalhadores. O peleguismo compreendido como um mecanismo do sistema capitalista foi enfrentado. Os sindicatos, urbanos e rurais, viveram momentos propícios para grandes enfrentamentos. Ligados aos partidos de esquerda garantiram espaço na política nacional, e defenderam, por muito tempo os direitos dos trabalhadores.

No sindicato, a mulher buscou seu reconhecimento. O trabalhador que freqüentava o sindicato não incentivava a participação de sua própria companheira. Daí nasce a necessidade de da mulher falar por si, tomar suas próprias decisões, buscar, enfim, sua identidade. O processo de organização das trabalhadoras rurais esteve diretamente ligada à luta das Ligas Camponesas, da Igreja Católica, dos sindicatos, dos movimentos feministas, dos partidos de esquerda, das Centrais Sindicais e da Via Campesina.

A participação masculina no mundo do trabalho pouco cresceu no período pós 1970. A intensificação da inserção feminina foi o traço marcante nas décadas seguintes. Entretanto, essa presença feminina deu-se mais no espaço dos empregos precários, em que a exploração, em grande medida, encontrava-se mais acentuada. Essa situação foi uma anomalia, entre tantas outras, da mundialização do capital no mundo do trabalho.

As transformações do mundo do trabalho foram decisivas para que as mulheres lutassem por autonomia. Uma vez que permitiram constituir e avançar o difícil processo de emancipação e, desse modo, minimizar as forças de dominação patriarcal no espaço doméstico. Contudo, essas transformações foram agravando significativamente a precarização da mulher trabalhadora. Trata-se, portanto, de uma emancipação parcial, um movimento contraditório, que a mulher precisa compreender e afrontar.

Este texto tratou das percepções sentidas nas mudanças do mundo rural: as camponesas e o mundo mudaram. As transformações externas rebateram nas diversas dimensões da vida no campo. Além disso, produziram o repensar e o reavaliar do passado mediado pelo presente vivo. Romperam com os limites do campo e, fisicamente, deslocaram-se pelos espaços, transitaram entre outros territórios e adquiriram visibilidade política.

Como vimos, o capitalismo, ao mesmo tempo em que cria condições para a emancipação da mulher, acentua a sua exploração ao estabelecer uma relação aparentemente harmônica entre precarização e mulher, cria formas diferenciadas de extração do trabalho excedente. Portanto, é importante que as mulheres estejam cada ver mais organizadas, lutando e despejando sobre o capitalismo todo o caldo feito de suor, sangue e lágrimas, nunca pago.

Assim, dadas às condições estabelecidas de hierarquia e dominação, a causa histórica da emancipação das mulheres não pode ser atingida sem desafiar diretamente a autoridade do capital, prevalecendo no macrocosmo abrangente da sociedade e igualmente no microcosmo da família nuclear.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Neuma. Mulheres na força de trabalho na América Latina: Análises Qualitativas. Petrópolis: Editora Vozes, 1984.

ANTUNES, Ricardo. O sentido do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999.

________. (2003). Adeus ao Trabalho. 9 ed. São Paulo: Cortez; Campinas; SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas.

ARAÚJO, A M. C. Apresentação do dossiê gênero no trabalho. Caderno Pagu, Campinas, Núcleo de Estudos de Gênero, Unicamp, n. 17: 2001.

BRANCHER, Ana. História de Santa Catarina - Estudos Contemporâneos. 2 ed. Florianópolis: Editora Letras Contemporâneas, 2004.

CLARET, Martin (org). O pensamento vivo de Marx. 8ed. São Paulo: Martin Claret, Editores, 1985.

COLETTI, Claudinei. A estrutura sindical do campo. Campinas: Editora da Unicamp, 1998.

DMITRUCK, Hilda B. Educação patrimonial e fontes históricas – Cadernos do CEOM. Chapecó: Argos, 2000.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 11 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003.

FERREIRA, Antenor G. Z. Concórdia: o rastro de sua história. Concórdia: Imprensa Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina, 1992.

GUARESCHI, Pedrinho Alcides. Sociologia crítica: alternativas de mudança. 38 ed. Porto Alegre: Mundo Jovem. 1996.

HEINSFELD, Adelar (org). A região em perspectiva: diferentes faces da história catarinense. Joaçaba: Edições UNOESC, 2001.

IANNI, Octavio. A constituição do proletariado agrícola no Brasil. Revista de Estudos Políticos. Belo Horizonte: n.12, out. 1961.

LIMA, Maria Ednalva Bezerra de. et al. Mulheres na CUT: Uma história de muitas faces. São Paulo: CUT Brasil, 2006.

LISBOA, Teresa Kleba. Gênero, Classe e etnia: trajetória de vida de mulheres migrantes. Florianópolis: Editora da UFSC; Chapecó: Argos, 2003.

MARCHESAN, Jairo. A questão ambiental na produção agrícola: um Estudo Sócio-Histórico-Cultural no município de Concórdia (SC). Ijuí: Ed. Unijuí, 2003.

MARTINEZ, Paulo. Reforma Agrária: questão de terra ou de gente? São Paulo: Moderna, 1987.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. In: SANT’ANA, Reginaldo. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985.

MEDEIROS, Leonilde Sérvolo de. História dos movimentos sociais do campo. Rio de janeiro: FASE, 1989.

MMTR. “Pré-tese para a Segunda Assembléia Estadual do MMTR/RS”. Passo Fundo, Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais. 1992.

MORAIS, Clodomir Santos. História das Ligas Camponesas do Brasil – 1969. In: STEDILE, João Pedro. A questão agrária no Brasil: história e natureza das Ligas Camponesas – 1954-1964. São Paulo: Expressão Popular, 2006.

MORGA, Antonio. et al. História das Mulheres de Santa Catarina. Chapecó/SC: Argos, 2001.

MORISSAWA, Mitsue. A História da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001.

NAVARRO, Zander. Democracy, Citizenship and Representation: Rural Social Moviments in the State of Rio Grande do Sul, Brazil, 1978-1990. Cambridge (Estados Unidos), Center for International Studies Working Paper, Massachusetts Istitute of Tecnology. 1992.

NOGUEIRA, Claudia Mazzei. A feminização no mundo do trabalho: entre a emancipação e a precarização. Campinas, SP: Autores Associados, 2004.

POCHMANN, Marcio. O desafio da inclusão social no Brasil.São Paulo: Publisher Brasil, 2004.

POSSAS, Lídia Maria Vianna. Mulheres, trens e trilhos: modernidade no sertão paulista. São Paulo: EDUSC, 2001.

RADIN, José Carlos. Italianos e ítalo-brasileiros na colonização do oeste catarinense. 2.ed. Joaçaba: Edições UNOESC, 2001.

Relatório do Primeiro Congresso, realizado em Brasília, de 5 a 8 de março de 2004, intitulado: Deliberações do Movimento de Mulheres Camponesas Brasil. Passo Fundo.

ROSSARI, Alzumir. Movimento sindical urbano de Chapecó e Concórdia. In: ZOTTI, Solange. História faz História: contribuições ao estudo da História Regional. Concórdia: UnC; HISED, 2006.

STEDILE, João Pedro. Questão agrária no Brasil. São Paulo: Atual, 1997.

___________. (2005). A questão agrária no Brasil: Programa de reforma agrária 1946-2003. São Paulo: Expressão Popular.

STEPHEN, Lynn. Relação de gênero: um estudo comparativo sobre organizações de mulheres rurais no México e no Brasil. In: NAVARRO, Zander. Política, protesto no campo: as lutas sociais dos colonos e trabalhadores rurais no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 1996.

TAVARES, Elaine. A luta das Mulheres Agricultoras em Santa Catarina. Florianópolis: 1992.

TEDESCO, João Carlos. Terra, trabalho e família: racionalidade produtiva e ethos camponês. Passo Fundo: EDIUPF, 1999.

TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve histórico do feminismo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2003.

VALADARES, Loreta. As faces do Feminismo.São Paulo: Editora Anita, 2007.

VALIM, Ana. Migrações: da perda da terra à exclusão social. São Paulo: Atual, 1996.


ENTREVISTAS:

Dilva Fengler

Herotides da Silva Romani

Projeto Poesia na Escola

Identificação:

Escola Básica Municipal Maria Petroli
Município: Concórdia
Data de início: março 2010
Data de finalização: setembro de 2010

Objetivo Geral:
• Construção e efetivação de um projeto interdisciplinar provocativo, educativo e, sobretudo que alimente o habito para a leitura com apoio das TICs - Tecnologias da Informação e da Comunicação;

Objetivos:
• Construção e efetivação de um projeto interdisciplinar provocativo, educativo e, sobretudo que alimente o habito para a leitura;
• Tornar a poesia prática constante para sensibilizar o cidadão do que acontece no nosso dia-a-dia,
• Valorizar a diversidade cultural da região, tornando a escola um centro ativo de produção e difusão cultural;
• Promover a permanente integração e troca de informações e conhecimentos entre a comunidade e a escola;
• Fundamentar conhecimentos poéticos com a presença de escritores locais e profissionais das diversas áreas;
• Possibilitar a comunidade escolar momentos para declamação das poesias estudadas nas diversas disciplinas, bem como, a musicalização.
• Propiciar estudos que garantam o princípio do reconhecimento do direito de cada um, isto é, a necessidade de levar em conta as diferenças (étnicas, regionais, de gênero, etárias, religiosas e culturais, etc.) e as desigualdades (socioeconômicas) para que a igualdade seja efetivamente alcançada;

• Descrição das atividades Gerais:
- As atividades serão desenvolvidas em várias etapas e nas diversas disciplinas.
ETAPA 1. Cada profissional descreverá as etapas específicas da disciplina/função que atua e como serão realizadas :

Direção Pedagógica:
• Fazer os contatos com os parceiros e colaboradores;
Identificá-los e descrever a contra partida de cada um:
• Divulgar as atividades realizadas;
Meios de divulgação que serão utilizados:
• Promover palestras;
Palestrante/temática:
• Propiciar espaços adequados para as apresentações poéticas;
Locais: Etapa 1: Declamação das poesias e exposição dos matérias produzidos na escola;
Etapa 2: Declamação das poesias e exposição dos matérias produzidos na escola no Memorial Atílio Fontana, aberto para a comunidade.
• Formalizar convites e entrega;
• Motivar e apoiar o grupo.
• Organizar equipe de jurados e descrição da seleção:
• Organizar cronograma da etapas de apresentações e cobrar o cumprimento:
• Encaminhar projeto a Secretaria de Educação solicitando subsídios para publicação do Projeto, bem como uma produção de cada aluno.
• Anexar projeto junto ao PPP.

Bibliotecária/ Técnico do Laboratório:
• Alimentar o Blog;
Breve descrição de como vai ser feito
• Confeccionar os convites, certificados, planilha de avaliação e outros documentos;
• Confeccionar painéis decorativos;
Função/breve descrição


História: (7ª e 8ª)

Etapa 1.

Etapa 1. Leitura de poemas nas aulas conforme conteúdo trabalhado. O professor deve ser o exemplo, ou seja, para que o aluno goste de poesia o professor primeiramente precisa apreciar.

Etapa 2. Solicitar que os alunos escolham e leiam poesias sobre a temática que está sendo discutida. Deve ser de forma voluntária. Nada deve ser obrigado. A internet será um bom suporte.

Etapa 3. Desvendar em conjunto a importância da poesia para a história e na vida de cada um. Explorar os poetas que se destacaram com temáticas históricas. Exemplo Castro Alves.

Atividade: produzir cartazes e materiais que ilustram as temáticas. Explorar imagens e fotografias. O uso dos jornais e revistas é indispensável para desenvolver tal tarefa, bem como a visita em sites que descrevam vida e obras dos autores.


Etapa 4. Usar a poesia para sistematizar os conteúdos.

Atividade: Num primeiro momento a construção de uma poesia para sistematizar o conteúdo deve ser realizada pelo professor e alunos. Ao perceberem que numa simples poesia é possível entender o conteúdo, criar outros momentos em que a atividade se desenvolva em duplas/trios. Quando os alunos se sentirem preparados para escrever sozinhos solicitar que o façam. No laboratório de informática cada aluno digitará sua poesia e com auxilio do professor postará no blog da escola.

Etapa 5. A música é uma excelente parceira para se trabalhar poesia. Não dá para esquecer que antes de ser música a música é uma poesia.

Atividade: Cada turma estuda conteúdos específicos e conceitos diferentes são construídos. Felizmente temos um volume de produções musicais que podem ser utilizado pelo professor de história para trabalhar. Muitos estilos musicais e ritmos produzidos no Brasil. Nossa cultura oferece muitas possibilidade. Numa temática como Revolução Federalista por exemplo as composições do Rio Grande do Sul oferecem boa receita. Solicitar que baixem músicas de épocas estudas e imagens. Conduzir para que produzam pequenos vídeos.

Etapa 5. O uso do laboratório de informática é muito importante e um grande aliado.

Atividade: garantir que ouçam da voz dos próprios poetas algumas poesias. Construir slides sobre os poetas e sua importância para a história. A música, as imagens e produções garantirão bons trabalhos que serão socializados com a comunidade escolar. Após a postagem no Blog da escola o aluno poderá usar de outras ferramentas para que o trabalho seja conhecido. As atividade serão usadas nas etapas de apresentações.

Etapa 6. Os alunos em conjunto com demais disciplinas terão um caderno de poesias.

Atividade: Todas as poesias estudadas na disciplina de História farão parte desse caderno/ata. Ele será prova viva das atividades produzidas e diariamente será abastecido nas mais diversas áreas e conteúdos. Também possibilitará a escolha de poemas para futuras publicações.
OBS: Temos crianças carentes e que o caderno as tornará intima das poesias produzidas e impressas.

Etapa 7. Explorar fontes orais para descobrir quais poesias os pais e avós lembram da época de criança. Comparar e refletir sobre a experiência que os entrevistados tiveram e a experiência que estão vivendo hoje.

Atividade: Elaborar um questionário e aplicar entrevistando conhecidos e familiares que possam contribuir com Projeto Poesia na Escola. O material com devida autorização poderá ser postado no blog. Os grupos que quiserem gravar as entrevistas e ou filmar, igualmente poderão postar.

Etapa 8. Com o uso do DVD possibilitar que os alunos conheçam escolas que trabalham projetos de poesia e como eles aprendem com essas experiências.

Atividade: Uso de documentário e outros blogs para comparar experiências sobre atividades desenvolvidas com poesias.

Conteúdos 7ª. Série
• O Brasil no Contexto: a economia e a sociedade colonial no século XVIII.
- A mineração.
- A Inconfidência Mineira.
- A Conjuração Baiana.
• O fim da exploração colonial portuguesa: a Independência do Brasil.
- A vinda da Família Real.
- A independência.
- O Brasil após a independência.

Conteúdos 8ª.:
• O populismo na América Latina.
• O Brasil no Contexto: a Era Vargas.
• Brasil: as décadas de 50 e 60 e o regime militar.
• Brasil: o processo de redemocratização e a Nova República.
Espaço físico onde deve ou pode ser realizada as atividades:
• Salas de aula e sala de multimídia;
• Quadra de Esportes/ refeitório;
• Memorial Atílio Fontana;
Materiais necessários:
• Cartolinas, quadro negro, pincéis atômicos, réguas, outros, tinta, livros, revistas, rádios, computadores.
Meios de comunicações a serem utilizados, caso necessário:
• Rádio, jornal, internet (blog),panfletos;
Tempo necessário à realização da atividade:
a) Para planejamento: 5h aulas
Descrição dos/as participantes:
• Quatro turmas/5ª a 8ª.- Ensino Fundamental;
• Parceiros: Memorial Atílio Fontana e Projeto Palavras;
• Secretaria Municipal de Educação;
• Fundação Municipal de Cultura;
• Coordenação Pedagógica;
• Professores e Funcionários;
• Comunidade Escolar;
Avaliação:
A avaliação do rendimento escolar será contínua e tem por objetivo a verificação da aprendizagem, o aproveitamento e o desenvolvimento do educando, bem como a apuração final do rendimento escolar, auxiliando no redimensionamento das atividades docentes.
A avaliação do aproveitamento será somatória, através de provas objetivas e subjetivas, produções de textos, debates, pesquisas, trabalhos em classe, individuais ou em equipes, atendendo a temática e aos objetivos da disciplina.
Referências:
1. Para se aprofundar

BERALDO, Alda. Trabalhando com poesia. São Paulo: Ed.Ática,1990.
GANCHO, Cândida B.V. Introdução à poesia. São Paulo: Atual,1989.
GOLDSTEIN, Norma. Análise do poema. São Paulo: Ática, 1980.
JOSÉ, Elias. A poesia pede passagem: um guia para levar a poesia às escolas. São Paulo: Paulus,2003 – Pedagogia da Educação.
KIRINUS, Glória. Criança e poesia na pedagogia Freinet. São Paulo: Paulinas, 1998.
MICHELETTI, Guaraciaba. Leitura e construção do real: o lugar da poesia e da ficção. São Paulo: Cortez, 2000. – (Coleção aprender e ensinar com textos; v.4)
PAIXÃO, Fernando. O que é poesia? São Paulo: Ed. Brasiliense, 1991.

2. Para saborear, se encantar e desejar poetar...

AGUIAR, Vera. (COORD.) Poesia fora da estante. Porto Alegre: Editora Projeto:
CPL/PUCRS,1996.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética.
AZEVEDO, Ricardo. Ninguém sabe o que é um poema. São Paulo: Ática,2005
__________________. A casa do meu avô. São Paulo: Melhoramentos,
BANDEIRA, Manuel. Berimbau e outros poemas. Rio de janeiro: Nova Fronteira,1996
BELINKY, Tatiana. Livro das Tatianices. São Paulo: Salamandra,2004
_____________. Di-versos hebraicos. São Paulo: Ed. Spicione,1991.
CAMARGO, Luís. O cata-vento e o ventilador. São Paulo: Ed. FTD
JOSÉ, Elias. Segredinhos de amor. São Paulo: Moderna,2001
_________. O jogo das palavras mágicas. São Paulo: Paulinas,2000
_________. O jogo da fantasia. São Paulo: Paulus,2001
LALAU e Laurabeatriz: Brasileirinhos, São Paulo:Cosac&Naif Edições, 2001.
LISBOA, Henriqueta. O menino poeta. São Paulo: Ed. Global,
LIMA, Ricardo da Cunha, Cambalhota. São Paulo: Companhia das Letrinhas,1996.
MAIAKÓVSKI. Poemas. São Paulo, Ed. Perspectiva, 1982.
MEIRELES, Cecília. OU isto ou aquilo. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
MORAES, Vinícius. A arca de Noé. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1991.
MURRAY, Roseana. Receita de olhar. São Paulo: FTD,1997
NERUDA. Cem sonetos de amor.Porto Alegre: L&PM,
NICOLA, José de. Alfabetário. São Paulo: Moderna, 1996.
_____________. Classificados Poéticos. Belo Horizonte: Minguilim,1984.
ORTHOF, Sylvia. Ponto de tecer poesia. Rio de Janeiro: EBAL,1987.
PAES, José Paulo. Poemas para brincar. São Paulo: Ática,1990
PAIXÃO, Fernando. Poesia a gente inventa. São Paulo: Ática,1995
PESSOA, Fernando. Poesias. Porto Alegre: L&PM,1996.
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Diário de Classe. São Paulo: Moderna,1992
QUINTANA, Mário. Poesias. Porto Alegre: Globo, 1989.
______________. Nariz de vidro.
SOUZA, Angela Leite de. Três gotas de poesia. São Paulo: Moderna, 1996.
TELLES, Carlos Q. Sonhos, grilos e paixões. São Paulo: Moderna, 1990.
_____________. Sementes de sol. São Paulo: Moderna, 1992.
ZATZ, Lia. Alfabetando. São Paulo: Paulinas, 2002.

Anexo:

Convite
José Paulo Paes

Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio, pião,
de tanto brincar,
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas,
mais novas ficam.
Como a água do rio,
que é água sempre nova.
Como cada dia,
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?